Tenho uma memória muito boa. Não acho um privilégio, porque isso, às vezes, me atrapalha muito. Não conseguir esquecer é um fardo pesado. Por exemplo, cito as inúmeras vezes que assisti a uma corrida de F1 e não gostei do que vi. É raro mas acontece. Gosto 99,9% das corridas de F1. Esta pequena porcentagem que não gosto é causada pela patriotada que a emissora detentora dos direitos de transmissão insiste em incutir na sua audiência.
Como não poderia deixar de ser, o locutor oficial da F1 para o Brasil, personifica e dá voz a algumas opiniões que ganham o povo e que deturpam de maneira excessiva os fatos realmente "de pista". Só para resumir, vou citar os três grandes campeões nacionais e suas particularidades, devidamente filtradas pela exposição na TV.
Emerson Fittipaldi colocou o ovo de pé. Como pioneiro, sua glória chegou depois, pois o mundo era muito grande na época. Informações instantâneas de hoje, levavam dias para chegar aqui. A cobertura era precária e os deslocamentos eram imensos. De alguma forma foi poupado pela mídia, pois quando ela o alcançou, sua carreira já estava estagnada com o desenvolvimento do Copersucar.
Nelson Piquet já teve uma exposição maior. Sua total indiferença com o estrelato lhe "causou" a fama de antipático. Apesar do sucesso nas pistas, ao longo dos anos percebia-se que era tolerado por não haver um garoto propaganda adequado ao formato da empresa Global. Quando este personagem apareceu na F1, Piquet foi levado ao estatus de xarope-mor na opinião pública. O nojento, para simplificar.
Ayrton Senna aproveitou ao máximo a mídia a seu favor. Utilizou bem as ferramentas de marketing e auto promoção, aliados a sua excelente condição de extra série. Virou, digamos, o queridinho das massas. E, num script perfeito, saiu desta vida como mártir das pistas e como, de fato, herói nacional.
De uma maneira geral, os três foram "mostrados" ao público de modos diferentes. Cada um em sua época e cada um com seu caráter.
Hoje, ainda falando dos brasileiros, pouco tenho a comemorar dentro das pistas. Seus feitos ainda não saíram do papel e suas incapacidades foram transformadas em artimanhas e teorias de conspirações absurdas pela mídia televisiva.
É duro constatar que não temos piloto. Temos coadjuvantes em um esporte que já foi nosso território.